VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS ENTRE MULHERES DO SERVIÇO SOCIAL NA DITADURA CIVIL-MILITAR DE 1964-1985“: PEQUENA MEMÓRIA PARA UM TEMPO SEM MEMÓRIA”
Resumo
Este trabalho é resultado da minha pesquisa de doutorado que se propôs o estudo das violências e resistências vivenciadas por mulheres do serviço social em sua inserção no enfrentamento à ditadura civil-militar no Brasil, entre 1964 e 1985. A complexidade desse tema está relacionada à formação social brasileira e, portanto, à forma como o capitalismo aqui se expressou. Destaca-se como hipótese de trabalho, nesta tese, a afirmação de que as relações patriarcais devem ser associadas à explicação da produção e reprodução das relações sociais capitalistas no país, bem como de que ditadura civil-militar freou o desenvolvimento teórico-metodológico da profissão em sua vertente crítica, só expressa e retomada no Brasil a partir de 1979. A aproximação ao objeto de estudo encontra convergência com a inserção de sua autora junto à temática da violência contra a mulher. Esta proximidade é traduzida por experiências de cunho acadêmico e profissional. O vínculo com a bandeira de luta das mulheres, ou seja, do feminismo – como movimento social emancipatório que se propõem a superação da dominação/exploração patriarcal capitalista, pautando a igualdade e a liberdade para mulheres –, esteve, portanto, relacionada ao interesse em realizar esta pesquisa. Para a realização deste estudo qualitativo e de natureza exploratória se recorreu, além da revisão teórico-bibliográfica, ao trabalho de campo envolvendo entrevistas com 10 (dez) mulheres do Serviço Social que estiveram inseridas, como estudantes, assistentes sociais e/ou docentes, nas lutas e resistências daquele período, bem como sofreram diferentes tipos de violência nesse processo. Também foram consultadas fontes documentais diversas, desde aquelas já publicadas até a consulta e análise de registros do Sistema Nacional de Informações (SNI), disponíveis no Arquivo Nacional, no Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, denominado “Memórias Reveladas”. A ditadura instalada pelo golpe civil-militar em 1964, desde seus momentos iniciais até seu declínio, se impôs abertamente pela força militar, coerção e violência, ao mesmo tempo em que restringiu ao limite os direitos mais elementares. Também foram múltiplas as formas de violência experimentadas e que se especificam entre as mulheres – física, psíquica, sexual, institucional –; enfim, violências que são explicadas nesta tese como relações patriarcais, que se associam às relações sociais capitalistas no país. Também são explorados os processos relacionados à experiência daquela geração, procurando identificar e estabelecer possíveis relações com o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (III CBAS), ou “Congresso da Virada” como usualmente é lembrado, e a retomada da vertente crítica na profissão.